O que é o Yoga?
top of page

O que é o Yoga?

Recentemente finalizei mais um curso de formação em Yoga com o professor Pedro Kupfer e nossa tarefa final de conclusão era escrever o que é o Yoga para cada um de nós. Demorei vários dias escrevendo esse texto, porque o Yoga é tanta coisa na minha vida, que foi difícil colocar em palavras, mas deu certo!


Trago aqui um pouco da minha visão, da minha experiência, de tudo que aprendi e vivi nesses 10 anos de prática e também algumas definições que aprendi e estudei bastante nos últimos anos. Sei que essa definição ainda vai mudar e se transformar muito com o passar do tempo, mas hoje é isso que o yoga significa pra mim. Espero que gostem :)


-----------------------------------------------------------------------------------------


Yoga é um caminho para o encontro com o nosso eu, para o autoconhecimento. É um estilo de vida e até mesmo uma cultura. É uma forma de viver a vida em todos os sentidos. Vai muito além do que fazemos quando abrimos o nosso tapetinho. Yoga é todo dia, em todas as nossas atitudes e relações. Yoga é presença, é sobre viver no aqui e no agora. É perceber a vida acontecendo e sair do piloto automático. Yoga é habitar a nossa casa, que é o nosso corpo. É limpar, organizar e viver em harmonia dentro desse nosso templo sagrado. Yoga é abrir a escuta, é silenciar ruídos externos para conseguir escutar nossa música interna e entrar em sintonia com ela. Yoga é sobre nos enxergarmos dentro do todo, dessa natureza que fazemos parte e não estamos separados. É sobre nos reconhecermos como a potência que somos.


O yoga nasceu na Índia há milhares de anos. Então praticar yoga é fazer algo ancestral, é manter a chama desse conhecimento tão profundo e poderoso acesa e fazer parte dela, nutrindo e sendo nutrida por ela todos os dias.

A lamparina (imagem ao lado) é muito tradicional na Índia, encontramos em todos os lugares (templos, casas, ashram) e ela está sempre acesa. O fogo representa a luz da vida, o conhecimento. Assim como a luz remove a escuridão, o conhecimento remove a ignorância. O yoga é esse conhecimento.


Gosto de olhar para o yoga como uma caixa de ferramentas que nos dá várias possibilidades para essa jornada de autodescoberta, para nos reconhecermos como seres livres e entendermos que tudo que procuramos fora, já temos dentro. Dentro dessa caixa de ferramenta, o yoga nos oferece os ásanas (posturas físicas), pranayamas (respiratórios), mantras, meditação e várias outras práticas. Independente de qual ferramenta dessa caixinha você escolhe usar, o importante é que ela te leve para esse caminho do autoconhecimento. Afinal, esse é o principal objetivo do yoga.


O bem estar, a vitalidade, melhora na nossa saúde física e mental, melhora na insônia, ansiedade, mais flexibilidade e força física, entre muitos outros benefícios são efeitos colaterais ou “consequências” muito maravilhosas que obtemos com a prática de yoga, mas esse não é seu objetivo principal. É importante termos isso bem claro.

Nesse caminho vamos aprendendo sobre nosso corpo, mente, emoções, refletimos sobre nossas atitudes e valores, sobre como estar no mundo, sobre como viver em harmonia e trazer consciência para nossa vida.


Vale dizer que yoga não é uma religião, pessoas de qualquer religião podem praticar. Outro ponto importante é que o yoga é para todos, de qualquer idade, condições físicas e classe social. Tudo no yoga se adapta a realidade da pessoa que o busca. Não tem essa de “Ah, mas eu não sou flexível” ou “Ah, mas sou muito agitada para fazer yoga”. Eu diria que justamente se você não é flexível nem calma o yoga é justamente para você. Mas ele também serve para quem é flexível e calmo, ou seja, o yoga é realmente para quem tem o mínimo interesse de se conhecer e viver melhor e mais em paz.


O yoga transforma. Nos transforma tanto que mudamos várias coisas de dentro que reverberam fora, ao nosso redor. Nossas escolhas, nossas visões, atitudes, hábitos, amizades, relacionamento, alimentação, trabalho, tudo ao nosso redor começa a mudar e se transformar. Então esteja preparada!


Li uma vez que o yoga nos ajuda a conhecermos nosso verdadeiro nome e isso fez bastante sentido para mim. Como diz José Samarago, no livro Todos os nomes: “Tu conheces os nomes que te deram, mas não conheces o nome que tens.” Então o nome que temos é uma descoberta que temos que fazer, na medida em que sejamos capazes de ficar no estado de testemunha, no estado de observação, em que não precisamos agir para atender a nenhuma solicitação, e apenas observar e compreender nosso mundo interno, criar uma proximidade com nosso corpo, mente e emoções. Se eu consigo ver meu corpo, eu não sou ele. Se eu consigo perceber meus pensamentos, eu não sou eles. Se eu sinto as emoções, eu também não sou elas. Então quem sou eu? Quem é esse eu que é testemunha e consegue ver e perceber o que eu sempre achei que era eu? Quem sou eu? Qual é o meu verdadeiro nome? O yoga vai nos conduzir para essa principal reflexão.


O que um Yogi deseja é a liberdade, Moksha. Quanto mais cultivamos a capacidade de testemunhar a vida, de viver o momento presente e sentir as emoções, não fugir de nada, estar no aqui e agora, mais praticaremos um modo de viver que traz liberdade. Vamos nos libertando de circunstâncias com as quais nos identificamos e sofremos, com os vários nomes que nos atribuem ou com os personagens e papéis que assumimos temporariamente.


Somos seres culturais, absorvemos e incorporamos os valores e “modos de ser” da sociedade que vivemos. Então um ponto importante que o yoga nos traz é a consciência de compreender que valores são esses, quais são as éticas desse mundo que vivemos. A partir daí perceber o quanto nos identificamos com esses valores, então selecionamos os que fazem sentido, aprendemos a conviver com o que não podemos mudar e descartamos aquilo que não faz sentido.


Por isso gosto de dizer que o yoga nos torna pessoas mais conscientes e íntegras e não pessoas mais positivas e calmas, como gostam de dizer por aí.




Para encerrar, consolidei 7 definições do yoga de acordo com os principais textos que já estudei.


1) “Yoga é equanimidade”. (Bhagavadgita)


É a capacidade de permanecer em equilíbrio, calma e harmonia apesar das circunstâncias e desafios que surjam no nosso caminho. Definição de Yoga como uma atitude independente de qualquer coisa, pessoa ou lugar. É uma forma de estar na vida, é uma forma de viver.


2) “Quando os cinco sentidos e a mente estão parados e a própria razão descansa em silêncio, então começa o caminho supremo. Esta firmeza calma nos sentidos chama-se Yoga. Mas deve-se estar atento, pois o yoga vem e vai.” (Katha Upanisad)


É humanamente impossível estar 100% do tempo equânime, em equilíbrio, ou seja, em yoga. Então essa definição da Katha Upanisad complementa a anterior no sentido de que quando estamos no caminho do yoga, buscando o autoconhecimento, fica mais fácil perceber quando “perdemos a cabeça” e voltar para o eixo. Por isso a definição diz que devemos vigiar porque o yoga vem e vai.


3) “Yoga é a perfeição na ação”. (Bhagavadgita)


Isso não quer dizer que fazer qualquer coisa de forma perfeita é yoga. O que essa definição indica é que a ação perfeita é aquela que é feita sempre considerando o bem comum, ou seja, o dharma. É uma maneira de agir, uma forma de estar no mundo contemplando o bem e zelando pelo outro. Em outras palavras é sobre ter empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro.

É sobre viver consciente, reconhecendo que somos responsáveis pelas nossas ações, mas não temos direito de controlar ou manipular os frutos das ações. Então fazemos as nossas escolhas e relaxamos quanto ao resultado que teremos a partir delas.


4) “Yoga é a desconexão da conexão com o sofrimento.” (Bhagavadgita)


Yoga é quando criamos um distanciamento do sofrimento, entendendo que não somos as emoções (tristeza, ansiedade, angústia, raiva). Elas apenas se manifestam, nos comunicam algo e passam. Somos testemunha das emoções e pensamentos, ou seja, conseguimos sentir e perceber, mas não somos as emoções em si. Então o que essa definição quer dizer é que quando tiramos essas camadas externas que nos confundem, nos desconectamos com a causa do sofrimento e nos conectamos com quem verdadeiramente somos, que é consciência, plenitude e felicidade.


5) “Yoga Citta Vritti Nirodhah” (Yoga Sutra de Patañjali)


Algumas pessoas traduzem esse sutra como “Yoga é a parada dos pensamentos”, mas isso não é possível, então traduzimos esse Sutra como “Yoga é parar de se identificar com os pensamentos”.

É da natureza da mente pensar e acontece de forma biológica. O ser humano não tem asas para fugir ou dentes para se defender, então precisa de uma mente ativa para o mecanismo de luta e fuga natural, ou seja, para que consiga se defender em um ambiente hostil. Estar acordado significa pensar.

Por mais que a palavra “Nirodha” signifique “parar”, não podemos achar que o objetivo do yoga é parar de pensar, ou seja ir contra algo natural do ser humano. O que vale aqui é entender que entre um pensamento e o outro existe um espaço e que nós como testemunhas conseguimos observar de fora os pensamentos, ou seja não nos confundimos achando que nós somos nossos pensamentos. Então “nirodha” é justamente reconhecer esse espaço entre cada pensamento e não se identificar e confundir com eles. “Nirodha” é distanciar-se desses conteúdos mentais que cumprem sua função, mas que não sejam obstáculos para a felicidade.

Então entendemos que a mente é importante, só que ela veio sem manual de instrução, então o yoga pode ser considerado tipo um manual do usuário para que possamos aprender a lidar com ela. E essa é uma ótima definição: O yoga é um manual de instrução da nossa mente.


6) Yoga é um darśana (uma visão de mundo).


Darśanas são escolas de filosofia ou visões não duais sobre o mundo e o papel do ser humano nele. Vai acompanhado de uma cultura e um modo de viver, ou seja, um estilo de vida.

Yoga ganhou esse título após o Yoga Sutra de Patañjali. Os darśanas são:


1. Vaisheshika

2. Nyaya

3. Yoga

4. Samkhya

5. Vedanta

6. Mimansa


7) “Neste corpo, o monte Meru [a coluna vertebral] está rodeado por sete ilhas: há rios, mares, campos e senhores dos campos. Há ṛṣis e sábios, e nele estão todas as estrelas e planetas. Há peregrinações sagradas, templos e deidades nos templos. O sol e a lua, agentes da criação e da destruição, movem-se nele. O espaço, o ar, o fogo, a água e a terra também se encontram aqui. Todos os seres que existem no mundo estão igualmente no corpo. Rodeando o monte Meru, fazem suas tarefas. Aquele que sabe disto é um yogi. Não há dúvida sobre isto.” (Siva Samhita).


Até o surgimento do Haṭha Yoga, a visão que se tinha sobre o corpo humano no mundo da espiritualidade indiana era negativa. O corpo era considerado apenas uma bolha de pele recheada de carne, ossos, secreções e impurezas, fonte do sofrimento, do apego e da dor. O Haṭha rejeitou essa visão desde o início, unificando a visão tântrica do corpo como templo da divindade, com a constatação do vedanta de que tudo o que existe na criação é expressão / manifestação do Ser, da consciência ilimitada.

Então o entendimento é de que o corpo é o templo do divino, porque ele permite uma série de investigações, reflexões e experiências que o tornam um instrumento muito importante para a liberdade.

Nós yogis / yoginis buscamos a inteligência que está escondida no corpo. Então o ponto de partida dessa descoberta de si mesmo é o corpo.


-----------------------------------------------------------------------------------------


Espero que tenham gostado e obrigada por ler até aqui :)


Namastê!


185 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page